16 agosto 2021

Sketch Tour Portugal  RELOAD - ALENTEJO

Quando o Mário Linhares me falou em fazer um texto sobre esta experiência, ocorreu-me uma frase que surgiu nessa mesma conversa: “O Skectch Tour é muito mais do que desenhar.” 


De facto estes dias visitando tantos lugares incríveis, conhecendo as suas gentes e história, foram de intensa partilha e inspiração acabando por serem vividos por este grupo - eu e o Lapin (desenhadores), o José Luis Peixoto (escritor), o António Gaspar (Turismo de Portugal) e o Francisco Barros (operador de câmara e fotógrafo), numa espécie de bolha de boa disposição e companheirismo.


O nosso primeiro dia começou por um passeio de barco no rio Tejo com saída de Escaroupim, uma aldeia piscatória Avieira. 


Os “avieiros” eram pescadores de Vieira de Leiria que faziam campanhas de pesca de Inverno no rio Tejo e a quem Alves Redol chamou de “nómadas do rio”. Os que foram ficando pelas margens do rio deram origem a pequenas povoações palafíticas como Escaroupim e Palhota, a que chegámos de barco neste passeio incrivelmente belo, povoado por inúmeras aves, íbis-negros, garças, andorinhas da barreira e tantas outras que não consegui fixar os nomes mas das quais não esqueço o impacto de as ver e ouvir no final do dia, numa massa compacta por entre a vegetação, na Ilha das Garças. 


Inesquecível também foi ver a Ilha dos Cavalos onde os vimos passear em liberdade junto do rio. 


Retenho a sensação desta atmosfera única onde verdes e azuis dominavam, barcos encalhados e veleiros actuais, marcavam presença nas margens do rio, dos cais em construções de madeira intricadas e, sobretudo, da paz que tudo isto me fez sentir. 


Acabámos o dia da melhor maneira, a jantar no Dois Petiscos em Santarém. 








O segundo dia foi passado na Coudelaria de Alter Real, em Alter do Chão. 


Foi um dia ao ritmo das rotinas deste lugar onde se preserva o cavalo lusitano desde 1748. Todas as actividades conciliam tradição e cultura podendo ser partilhadas pelos visitantes ou hóspedes do hotel existente na Coudelaria, onde almoçámos.


Uma actividade que se repete duas vezes por dia dá pelo nome de eguada. É talvez a mais intensa e marcante de todas. A primeira pela manhã, quando éguas e crias regressam depois de terem dormido no campo. A segunda, a meio da tarde, quando fazem o percurso inverso e voltam a sair do estábulo para passar a noite fora. Assistir a esta massa de corpos que se movimenta como um só, ouvindo o barulho dos cascos no empedrado, é avassalador.


Foi-nos permitido estar no meio das éguas e dos potros antes da saída da tarde, uma sensação única. A curiosidade era mútua. Tive alguma dificuldade em evitar que uma cria lambesse a caixa de aguarelas mas não consegui evitar que outra derrubasse o recipiente com a água. Falávamos com as éguas para não se sentirem ameaçadas e caírem na tentação de nos dar coices. Senti-me pequena, intrusa e abençoada.


Na Falcoaria, onde também se recuperam as antigas técnicas medievais, uma arte ligada ao cavalo, ouvi as histórias e curiosidades destas aves contadas pelos tratadores. Histórias felizes como a da águia de nome Queimada que foi salva pela equipa da Falcoaria depois de ter ficado gravemente queimada pelas de chamas de uma chaminé onde inadvertidamente pousou. 


Já na Casa dos Trens, o silêncio e o fresco, imperavam. 






O terceiro dia começou na vila de Marvão debaixo de um sol esplendoroso. 


Adoro as ruas estreitas, os recantos cheios de vasos, as rendas nas janelas e portas, a maravilhosa vista das muralhas e a luz que se reflete nas paredes brancas e cria um ambiente acolhedor, alegre e único. 


Sentei-me à sombra, num recanto que tinha um pouco de tudo isto e fui desenhando.


Almoçámos debaixo do arvoredo na margem do rio Sever, no restaurante com o  mesmo nome, na aldeia Portagem seguindo depois para Castelo de Vide pela EN 246-1, uma das mais bonitas estradas de Portugal. Mais de duas centenas de freixos com com uma faixa branca pintada nos troncos formam um magnífico túnel, o “Túnel das Árvores”. 







No quarto dia, um sábado, fomos para a feira de antiguidades e velharias em Estremoz. 


Num ambiente cheio de vida, que me recordo de infância, vende-se de tudo um pouco. 


À conversa com o feirante António Pereira, sentada numa cadeira que gentilmente cedeu do seu espólio de materiais para venda, fiquei a saber que não tinham lugares marcados mas por uma questão de respeito entre feirantes a tradição era de os lugares serem sempre ocupados pelas mesmas pessoas. Também tradição, a pequena refeição de queijo, pão e vinho que dividia com amigos a meio da manhã. 


Quando lhe quis comprar um chocalho antes de me vir embora, não me deixou pagar, porque disse ter-lhe dado sorte nas vendas do dia. 


Visitantes e feirantes aproximavam-se para ver e comentar o que desenhava. Um feirante comentou que o meu desenho estava muito bonito mas tinha um erro e quando lhe perguntei o que era, disse que estava a desenhar o homem mais feio da feira, que ele, era o mais bonito.


Fomos almoçar a Elvas, no Santa Luzia Hotel. Desenhar nesta cidade fortificada, a maior da Europa, reconhecida como Património da Humanidade pela UNESCO, tornou-se num dilema constante. A cada passo, tudo apetecia desenhar.






Na manhã do quinto dia dividimo-nos ficando o Lapin em Elvas e eu em Estremoz, onde não se via praticamente ninguém por ser domingo. O silêncio no coração da cidade transmitia uma imensa serenidade.


Marcante também os verdes intensos das vinhas que quase alcançam as muralhas. 


Almoçámos na Cadeia Quinhentista e seguimos para Vila Viçosa e Borba onde visitámos uma pedreira de mármore. Este local teve em mim um grande impacto. Uma enorme cratera, profunda, com água cor esmeralda no fundo, amontoados de desperdícios de pedra espalhados pela zona circundante e uma paz solene como se o tempo estivesse suspenso à espera de ser libertado. 


O último jantar de grupo foi no Marmoris Hotel, numa memorável conversa sobre viagens.






O sexto e último dia foi em Monsaraz, só de manhã. 


A vista das muralhas sobre a planície e Lago Alqueva é deslumbrante. 


Nas minhas memórias de infância a presença da água não tem lugar mas já não consigo imaginar esta vastidão de outra maneira. Sinto-me sempre em casa quando aqui regresso. 


Quando terminámos o almoço no restaurante Sem Fim, apanhei duas pedrinhas, mesmo à porta, e guardei-as no último frasco de vidro onde recolhíamos fragmentos destes dias, para preservar a memória da aventura de viajar que nunca deve ter fim.





28 outubro 2020

De volta ao Blogue

Após imenso tempo de abandono (o Instagram acaba por ser mais imediato) volto a publicar determinada a não voltar deixar de o fazer por um período tão longo.
Ultimamente ando com uma obsessão: pombos. Aconteceu depois de ver os que o Eduardo Salavisa tinha pintado numa harmonia perfeita de movimento e cores. Ando desde aí a tentar fazer os ditos apenas com uma pincelada rápida, directa, sem esboço prévio, como proposto pelo Eduardo, mas é uma tarefa difícil para mim. Consegui transformá-los em melros, galinhas e outras aves indefinidas mas nestes dois, pelo menos, consegui alguma semelhança. 





15 novembro 2018

Compostela Ilustrada 2018


Oficinas estimulantes, conferências inspiradoras, uma série de apresentações interessantíssimas, muito convívio e boa comida em quatro dias de chuva intensa. Assim foi a minha primeira participação.





Oficina com Alfredo Urumo sobre composição propondo o uso da cor para os diversos registos e planos. Também referiu o papel complementar do texto que no meu caso, deveria ser apenas uma frase como continuidade do desenho.

Oficina com Miguelanxo Prado (um dos meus heróis da BD), sobre a importância de entender o que  desenhamos e de limparmos a memória de registos errados para fazermos registos mais rápidos e precisos.

13 novembro 2018

4º Encontro Internacional de Desenho de Rua 


Fui pela primeira vez a este Encontro em Torres Vedras de que tanto e tão bem ouvia falar. Organizado de forma excepcional pelo André Duarte Baptista, num ambiente de verdadeira partilha e de franco convívio, fomos recebidos maravilhosamente pelos anfitriões das diversas quinta que visitámos, lugares magníficos propícios ao desenho e à conversa animada. Adorei os exercícios que os formadores nos propuseram e, muito embora não tenha conseguido estar todos os dias, não podia ter ficado mais entusiasmada com este ambiente fabuloso. Obrigada a todos.




24 outubro 2018

Craveiral


No Craveiral, tudo se passa ao nível dos sentidos. A sensação de pertença ao lugar que encanta pela autenticidade e grande sentido estético também conquista pelo conforto e bem receber.
Como se tudo isto não bastasse, a relação que se cria com a natureza envolvente e com os animais que por lá habitam, só por si, já seria suficiente para nos fazer sentir felizes. E foi exactamente assim que me senti, feliz!






27 maio 2018

Encontro dos USkP no Museu Nacional dos Coches



Detalhes da carruagem usada na coroação do Rei D. Carlos I e utilizada pela última vez quando a Rainha Isabel II de Inglaterra visitou Portugal, em 1957.

21 maio 2018

AÇORES_Reportagem Senhor Santo Cristo dos Milagres 2018


Foi um enorme prazer juntar-me novamente ao Grupo de UrbanSketchers Açores, para participar na reportagem das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres que Alexandra Baptista idealizou e organizou de uma forma admirável, conseguindo acesso a locais privilegiados para desenharmos, cobrindo todos os momentos das festividades com um grupo entusiasmado distribuído segundo o seu planeamento meticuloso. 
Apesar dos laços familiares que me ligam a São Miguel, foi a primeira vez que assisti a estas Festas tão religiosas quanto profanas onde a solenidade se mistura com a feira e o incenso com o algodão doce. É verdadeiramente uma festa de todos e gostei muito de me sentir parte dela. 
À Alexandra e família todo o meu carinho e gratidão.

4 Maio
Depois de termos chegado, pouco tempo tivemos para jantar e ir a correr assistir ao acender das luzes  da fachada do Santuário do Senhor Santo dos Milagres e do Campo de São Francisco. Este foi o primeiro desenho que fiz ao som da Banda Triunfo junto do coreto, no meio da multidão entusiasmada e em conjunto com os outros urbansketchers onde também estava a Helena Monteiro. Um deslumbramento.



5 Maio
Cheguei ao Campo de São Francisco no final da manhã depois das promessas  e já tinha começado a preparação dos tapetes de flores por onde o Cortejo da Mudança da Imagem do SSCM iria passar. Tentei perceber como se faziam os tapetes falando com as senhoras que separavam as pétalas para os motivos decorativos centrais dos tapetes.


A seguir eu e a Alexandra fomos para a Porta Regral, local de acesso restrito onde foi possível estarmos a desenhar graças à permissão do Sr. Cónego Adriano Borges. Fiquei tão deslumbrada e surpreendida pela forma como a parede estava coberta com criptomérias, como a porta estava ornamentada com flores e o chão em frente à Porta estava coberto por um tapete de pétalas de rosa lindíssimo, que eliminei as pessoas do desenho. Percebi depois, que só com elas o todo fazia sentido. 
O ambiente era de expectativa solene. 


Esta foto foi-nos tirada por uma prima que inesperadamente encontrei .

Segundo o ritual das Festas, o Provedor da Irmandade bate à Porta Regral e quando as portas se abrem, ao som do Te Deum cantado pelo Conservatório Regional de Ponta Delgada, a imagem do SSCM aparece no meio de um mar de vestes brancas do clero onde o vermelho e dourado se destacavam. Desenhei rapidamente o que a emoção via. Deu-me que pensar.


Depois, mais uma vez a correr, a Alexandra e eu, fomos para a Santa Casa da Misericórdia onde consegui ainda registar a paragem que fazem com a imagem em frente dos doentes. Depois, sentada nas escadarias a conversar com o Sotero Drumond Silva, fui colocando cor.


Antes do jantar ainda fui com o grande companheiro António Cabral, desenhar uma montra de uma frutaria que me tinha chamado a atenção pela decoração e pelo lindo registo do SSCM.



6 Maio
Antes da Procissão as ruas ficaram lindíssimas com tapetes feitos de flores e aparas de madeira tingidas, segundo a vontade de cada morador. Também as varandas se encheram de flores e nas janelas colocaram-se colchas. O ambiente era de grande azáfama. Este é um dia também de convívio em família. 
Segui  o processo da  moradora da Rua do Perú 24, Marina, que me disse que todos os anos sonha com este dia e leva o restante ano a imaginar o desenho que irá fazer. Com a ajuda da filha Loide e da vizinha Sónia, que vive no Canadá e vem de propósito nesta altura, e outros vizinhos, o tapete vai sendo feito, fotografado e muito apreciado por quem passa. 
Prometi enviar o desenho e fotos que tirámos.


  

De tarde, com uma vista maravilhosa da varanda Santa Casa da Misericórdia, que o Sr. Provedor e a Dra. Raquel Silva gentilmente disponibilizaram, assisti à Procissão. 
Desenhámos e partilhámos conversas e o desenho foi surgindo, sem pressas, ao ritmo da Procissão. 


7 Maio
Antes de ir para o aeroporto desenhei o táxi do Sr. Jorge Gaudêncio que abre o desfile de Homenagem da Polícia de Segurança Pública, dos Bombeiros Voluntários, dos táxis da Associação dos Táxis de S. Miguel e Santa Maria e dos Motociclistas de S. Miguel. 
Explicou que decorava o táxi desta forma há doze anos, cumprindo uma promessa que fez pela saúde da mãe.



Já no avião, a fazer o balanço destes dias e a sentir-me feliz por ter podido participar na reportagem das Festas, desenhei o cartão que a Alexandra nos entregou quando chegámos e que guardo com orgulho. 
Obrigada Alexandra e restantes Urbansketchers Açores.